Leila diz que 'Palmeiras não é banco e precisa de titulos' / Abel falou sobre desgaste na maratona do calendário


11.04.2022 - 00h46
Em entrevista exclusiva para o jornal 'Folha de S. Paulo', Leila afirmou, entre outras coisas, que o 'Palmeiras não é banco e precisa conquistar títulos', e que 'o futebol exerce fascínio nos banqueiros'. A entrevista abaixo, foi postada pelo jornal, dia 10.4.2022, às 23h15 da noite de domingo.

"Leila, liga no Palmeiras e vê quanto foi o jogo." 
Estagiária do departamento de esportes da TV Manchete, Leila Pereira, 19, atendia ao pedido do marido, o banqueiro José Roberto Lamacchia. No começo da década de 1980, pré-internet, ela telefonava para o clube para saber qual havia sido o placar. 

Quase quatro décadas mais tarde, ela é a primeira presidente mulher da história da agremiação. Eleita em novembro do ano passado como única candidata, tornou-se nome conhecido no futebol na esteira do patrocínio da Crefisa ao Palmeiras. Parceria de cerca de R$ 120 milhões anuais e iniciada em 2015.

Leila é presidente da financeira e Lamacchia é acionista controlador. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ela ri de boatos de que na infância foi vascaína, mas reconhece ser estranha no ninho. É uma mulher de sotaque carioca, que oito anos atrás nenhum torcedor sabia quem era, e hoje está no comando de um dos maiores clubes do país.
 
Leila Pereira, presidente do Palmeiras, em entrevista à Folha - Karime Xavier (Foto Folhapress)

(Alex Sabino / Folha de S.Paulo) É um cargo (presidência do clube) bem diferente para Leila, principalmente porque, ao contrário do banco, não tem como objetivo o lucro. Diz não querer o Palmeiras com o cofre cheio de dinheiro. A meta é ganhar. 

Folha: A senhora era vascaína na infância? 
Nunca liguei para futebol. Não tinha time. Comecei a acompanhar o Palmeiras quando comecei a namorar meu marido, que sempre foi muito palmeirense. O amor [pelo Palmeiras] foi acontecendo e ficou muito forte. Aos poucos fiquei mais envolvida por causa do meu marido palmeirense, das nossas marcas estampando o uniforme... Eu não tinha dimensão da força do futebol para uma marca, diz Leila 

Folha: O que uma banqueira leva de vantagem, em administrar um clube de futebol como o Palmeiras? 
O presidente do conselho [Seraphim del Grande] me falou que uma das qualidades que tenho, é a facilidade para dizer não. Tenho mesmo e é preciso. E eu falo "não" sem problema nenhum. 

Folha: O torcedor pode achar que, por a Crefisa ser um banco, tem o cheque aberto para financiar contratações para o Palmeiras. 
''Torcedor cobra muito contratações. Isso é definição do nosso técnico. A Crefisa é um banco. O Palmeiras, não. O Palmeiras precisa de investimento para contratar bons jogadores. Por exemplo: eu não vendo atleta que está jogando bem.'' - diz Leila

''As pessoas perguntam como vou fazer para segurar tal jogador. Simples, ele tem contrato e é para ser cumprido. Se pagar a multa, tudo bem. Caso contrário, não vendo. O Palmeiras não é para estar com caixa abarrotado de dinheiro. Os recursos têm de existir para investir no futebol. O Palmeiras precisa conquistar títulos, e só se conquista títulos com os melhores.'' - continuou.

Folha: Desde que a senhora assumiu o cargo, Palmeiras conquistou a Recopa Sul-Americana e o Paulista, mas houve críticas quanto à ausência de um camisa 9, e demissões feitas no clube. Acha que as críticas aconteceram por ser mulher? 
''Se tivesse sentido preconceito, não teria sido eleita com o número avassalador de votos que recebi. Seria hipócrita dizer isso. Acho que tem essa coisa de eu ser mulher, e ser carioca com sotaque carioca como presidente de um dos maiores clubes do mundo. Isso é uma vitória para todas as mulheres. Nunca fiz campanha feminista, mas é importante para as mulheres.''

Folha: Há o caso de José Berenguer, da XP, que estava no Santos, os Moreira Salles envolvidos no Botafogo. A imprevisibilidade e a adrenalina do futebol exercem um fascínio sobre banqueiros? 
Exerce, sim. Mas vou te falar uma coisa, não sei se é porque sou fria, objetiva, mas tenho muito os pés no chão. No Mundial, a gente esteve a um passo da conquista do nosso bicampeonato do mundo. Perguntaram se eu estava nervosa e respondi que não. O trabalho já havia sido árduo para chegar até ali. Futebol pode acontecer qualquer coisa. Você tem de estar preparado. 

O que esse cargo traz é muita responsabilidade. Eu não posso decepcionar nossos milhões de torcedores. Eu não entro em campo para fazer mais ou menos. Eu sou uma boa camisa 9, e não perco gols.

Folha: Mas como é para alguém acostumada ao mercado financeiro, a números, a racionalidade, estar em um ambiente em que se a bola bate na trave e entra, todo mundo é gênio. Mas se bate na trave e sai, todo mundo é idiota? 
Não é fácil. Mas se a bola bate na trave e sai, todo mundo pode ver o esforço feito. As pessoas sabem que houve luta. O futebol é igual à vida. É ao vivo e a cores. Não tem ensaio. Às vezes, a torcida pode não entender. Mas eu entendo. Se bater na trave e sair, vamos fazer o melhor e na próxima a gente consegue. 

Folha: Já que a cobrança do momento é por um camisa 9, por que ele não foi contratado? 
Qualquer jogador que o Abel [Ferreira, o treinador] sugeriu, se não veio, não foi por dinheiro. Foi porque o outro time não quis vender ou porque o atleta estava na Europa e não quis vir. 

Nós não temos o camisa 9 e fizemos quatro [no SPFC, na final do Paulista 2022]. Não temos camisa 9, mas olha quantos títulos [foram conquistados]. Futebol não é ciência exata. Pode ser que venha um 9 e não encaixe. Mas compreendo o nosso torcedor. Ele é o maior patrimônio do clube. 

Folha: Foi discutida a ausência do Palmeiras em uma reunião promovida pela XP para falar sobre a nova liga de clubes. Qual é a sua posição sobre isso? 
A liga é fundamental e sou uma das maiores entusiastas. Mas a questão é os clubes se entenderem. Não adianta marcar reunião de duas ou três horas com empresas que vão arrumar investidor. Primeiro, nós precisamos formar a liga. Não vou ficar duas horas em reunião, que eu detesto, para não resolver nada. 

Acredito que a liga vai sair e precisa sair. Vou fazer força para isso. O futebol brasileiro não se sustenta por muito mais tempo da forma como os clubes estão com dificuldade hoje, disse a atual presidente do Palmeiras.

Folha: Alguns clubes estão procurando o modelo de sociedade anônima após a aprovação da lei da SAF. E o Palmeiras? 
Eu sou contra transformar o Palmeiras em empresa. É um clube muito grande, entendeu? Eu acho que você pode deixá-lo como uma associação, mas sendo administrado profissionalmente. Mas não só no discurso. Na prática, como eu estou fazendo.

Folha: Além do contrato de patrocínio, a Crefisa fez empréstimos ao Palmeiras para a contratação de reforços. Quanto o clube deve para a empresa e como isso será pago? 
A dívida está entre R$ 120 milhões e R$ 130 milhões. O pagamento seria feito na venda dos jogadores. Se o atleta sair no final do contrato, o Palmeiras tem dois anos para pagar. É isso.
 
Jogadores do Palmeiras erguem a taça de campeão Paulista 2022 (Foto: Eduardo Knapp/ Folhapress)


Folha: Se a senhora se reeleger no fim de 2024, terá de renegociar, como presidente do Palmeiras, a renovação de contrato de patrocínio com a empresa em que é presidente. Como isso será possível? 
Não tem problema nenhum. Tenho vários diretores aqui e eles vão fazer uma proposta para o Palmeiras. Eu submeto isso e quem vai decidir é o COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) e posso submeter ao conselho deliberativo. Eles é quem vão decidir. Eu nem voto nesse dia. Vou me abster. Então, é tudo muito transparente. 

Folha: Para a senhora não há conflito de interesse? 
Se tiver algum assunto referente ao patrocínio, quem vai deliberar é o conselho do Palmeiras, não serei eu. Ouvi falar muito sobre conflito de interesse, mas até agora ninguém veio me dizer diretamente nada sobre isso.

Folha: A senhora ficou conhecida entre os torcedores do Palmeiras como "tia Leila". Como reage a esse apelido?​ 
Para mim, é incrível andar na rua e ter o carinho das pessoas. Às vezes, nem são palmeirenses. Eu adoro o "tia Leila". É carinhoso. É lindo.
 
Os jogadores da SE Palmeiras, em treinamento no CT Academia de Futebol, domingo 10/4/22. (Foto: Cesar Greco/ SEP)

Em cerca de três meses, o elenco do Palmeiras já disputou três campeonatos diferentes, e ganhou duas: Recopa Sul-Americana, e Paulista, respectivamente, perdendo somente, a final do Mundial de Clubes. Hoje, já está na luta por outros três: Brasileirão 2022, Copa do Brasil, e Taça Libertadores. E novamente, o treinador português Abel Ferreira, criticou o inchaço do calendário.

"Este cansaço, entramos muito fortes na temporada, fruto das competições que nós tínhamos. O calendário está aí e não vamos mudar, temos muitas competições. Perdemos Mundial, ganhamos Recopa e Paulista. Temos Libertadores, Brasileirão, a Copa (do Brasil)... Já ganhamos dois, vamos continuar olhando para dentro, a regra de 24 horas se aplica na derrota e na vitória"- disse Abel Ferreira.

"O cansaço vem para todos, não só para os jogadores, sou feito de carne e osso. Uma equipe vai sair campeã no final. Hoje (sábado) é ficar com a sensação de que o jogo não nos correu bem. Recuperar bem esses jogadores mental e fisicamente. Isto é uma maratona, jogo a jogo", prosseguiu, em entrevista coletiva após a derrota por 3 a 2 para o Ceará, no estádio Allianz Parque, em São Paulo, pela estreia do Brasileirão.
 
Com tantas partidas seguidas, e um elenco com poucas modificações em 2022, o português falou mais sobre o elenco e reforços:
"Já falei sobre isso, não vão aproveitar quando a gente perde para por em questão tudo. Os jogadores são os mesmos. Sobre os reforços e sobre tudo, já fui muito claro. A direção também já foi muito clara. Há um limite, o clube tem um limite. Há clubes que não têm, mas nós temos", lembrou, sobre a falta de contratações de reforços.

"Não nos podemos esquecer que há seis dias ... Nem para festejar o título (do Paulista) tivemos tempo, o que é vergonhoso. É uma adrenalina muito grande. Intensidade, nem tivemos tempo para recuperar. O problema não é o elenco, há um problema maior, da organização. Há coisas mais importantes, e mais urgentes", disse Abel.

Com jogo marcado para terça-feira, pela Libertadores, Abel lamentou o pouco tempo de descanso:
"Descanso como? Não temos tempo para dar descanso, como vamos, jogos em dois ou três dias. Tivemos 15 dias para preparar um troféu e conquistar um titulo, o Paulista. Hoje (sábado) não conseguimos, não vou dar desculpa nem dizer do árbitro. Nossa equipe não conseguiu", concluiu.


Próximo Jogo: Palmeiras v Independiente Petrolero │ Libertadores 2022 - 2ª Rodada│12 de abril, terça-feira ás 21h30, Allianz Parque (Transmissão: ESPN e SBT)

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