Hereditariedade Palestrina
13.02.2022 — 15h30
(Texto de Matheus Grandin) O ano é 1918, durante a ocupação austríaca do vilarejo de San Donà di Piave, minha bisavó toma meu pequeno avô - bebê de colo - nos braços e foge. Ver aviões pela primeira vez deveria ser algo extraordinário mas, estes, atiravam para baixo matando todos que ela conhecia, todos que haviam feito parte de sua vida até então. Ela embarca em um navio, rumo à América do Sul.E, de alguma maneira, eu, ainda não nascido aí já me tornei palmeirense pois, ser palmeirense é virar as costas para a desgraça e perseguir um sonho, mesmo quando os próprios céus rompem em chuva de chumbo sobre ti. Contra tudo e contra todos.
Meu avô, cobrador de bonde, tinha 32 anos e meu pai apenas um bebê de colo quando os jornais, com soberba, já declaravam o Brasil campeão do mundo. Meu avô não tinha dinheiro para ter um rádio de pilha - eles eram grandes e caros, tão caros quanto seria uma televisão hoje - mas, ele viu quando os passageiros do bonde atiravam seus rádios contra o chão quando Ghiggia fez acontecer o Maracanaço.
Ele tinha 33 quando o Palmeiras foi, pela primeira vez, campeão de um torneio intercontinental de clubes e ele viu quando todos os brasileiros comemoraram o título como um Mundial, quando todos os brasileiros, independentemente do clube para qual torciam, encheram-se de orgulho alviverde, mesmo que seus descendentes envergonhem-se disso e menosprezem a alegria que tiveram seus antepassados. E eu, ainda não nascido, sabia que seria palmeirense, pois ser palmeirense é explodir em alegria em meio à desconfiança.
Meu pai viu jogarem Leão, Eurico, Luis Pereira, Alfredo, Zeca, Dudu, Ademir, Leivinha, Edu Bala, César Maluco e Nei. Ele viu todas as conquistas, maior parte delas de dentro do estádio Palestra Itália. Até hoje, quando eu pergunto a ele: "Pai, o Pelé jogava para caralho mesmo?" ele me responde "Todas as vezes que eu o vi no estádio, Luis Pereira não deixou ele fazer coisas nenhuma." E eu, ainda não nascido, sabia que seria palmeirense pois, ser palmeirense é ser tachado como "segundo melhor" e mesmo assim, de fato, ser campeão!
Meu irmão viu a fila de 80, ele estava no estádio na final perdida em 86. Ele apontou o dedo para meu pai e o chamou de pé-frio. Demorou para que ele visse o Palmeiras campeão. O fim da fila veio no dia dos namorados de 1993, no pênalti de Evair, nos 4x0 sobre os maiores rivais. Eu, ainda um bebê, já era palmeirense pois, ser palmeirense é nascer do sofrimento e irromper em glória grandiosamente. Nada é morno, somos oito ou oitenta.
Eu era pequeno quando assistia aos espetáculos do time de 1996. Time? Não... Uma seleção! Um sonho! Velloso, Cafu, Cléber, Junior, Amaral, Flávio Conceição, Rivaldo, Djalminha, Luizão e Muller. O ataque dos 100 gols! E eu tive certeza que sou palmeirense pois, ser palmeirense é esperar o maior, o melhor, o fantástico.
Em 1999, o choro de alegria no pênalti perdido de Zapata e o choro de tristeza na falha de Marcos. Em 2000 e 2001, a esperança de voltarmos a disputar o mundial se mantinha. Nos anos seguintes, o choro se tornou de raiva. Foram 14 anos de agonia. Meu avô se foi deste mundo em 2001 e, graças a Deus não teve de passar por esse desgosto.
Meu pai viu jogarem Leão, Eurico, Luis Pereira, Alfredo, Zeca, Dudu, Ademir, Leivinha, Edu Bala, César Maluco e Nei. Ele viu todas as conquistas, maior parte delas de dentro do estádio Palestra Itália. Até hoje, quando eu pergunto a ele: "Pai, o Pelé jogava para caralho mesmo?" ele me responde "Todas as vezes que eu o vi no estádio, Luis Pereira não deixou ele fazer coisas nenhuma." E eu, ainda não nascido, sabia que seria palmeirense pois, ser palmeirense é ser tachado como "segundo melhor" e mesmo assim, de fato, ser campeão!
Meu irmão viu a fila de 80, ele estava no estádio na final perdida em 86. Ele apontou o dedo para meu pai e o chamou de pé-frio. Demorou para que ele visse o Palmeiras campeão. O fim da fila veio no dia dos namorados de 1993, no pênalti de Evair, nos 4x0 sobre os maiores rivais. Eu, ainda um bebê, já era palmeirense pois, ser palmeirense é nascer do sofrimento e irromper em glória grandiosamente. Nada é morno, somos oito ou oitenta.
Eu era pequeno quando assistia aos espetáculos do time de 1996. Time? Não... Uma seleção! Um sonho! Velloso, Cafu, Cléber, Junior, Amaral, Flávio Conceição, Rivaldo, Djalminha, Luizão e Muller. O ataque dos 100 gols! E eu tive certeza que sou palmeirense pois, ser palmeirense é esperar o maior, o melhor, o fantástico.
Em 1999, o choro de alegria no pênalti perdido de Zapata e o choro de tristeza na falha de Marcos. Em 2000 e 2001, a esperança de voltarmos a disputar o mundial se mantinha. Nos anos seguintes, o choro se tornou de raiva. Foram 14 anos de agonia. Meu avô se foi deste mundo em 2001 e, graças a Deus não teve de passar por esse desgosto.
E eu, me mantive palmeirense pois, não se pode apenas tirar de sua vida aquilo que não lhe agrada, mesmo que cada um de nós tenha dito ao menos uma vez "Eu não assisto mais esse time de merda". Essa promessa nunca se cumpre. Sabemos que quanto mais sofremos, maior será nossa explosão de alegria. E, em 2016 meu irmão se foi, em uma explosão de alegria que seu coração não aguentou, no dia que levantamos a taça de campeão brasileiro.
Minha filha nasceu e a explosão de alegria de proporções continentais foi uma das primeiras coisas que ela ouviu em sua vida. O grito desinstalou da garganta! E, inesperado apenas por aqueles que não são palmeirenses, mais uma vez, no mesmo ano a América é nossa! Duas Libertadores no mesmo ano! E se a Commebol tivesse organizado três, teríamos ganho as três! Somos palmeirenses e, hoje jogaremos contra o gigante europeu. O mundo em um jogo.
E eu sei, que independente do resultado, as lágrimas rolarão. E o Verdão sempre estará comigo e com minha família. Obrigado, Palmeiras!
Minha filha nasceu e a explosão de alegria de proporções continentais foi uma das primeiras coisas que ela ouviu em sua vida. O grito desinstalou da garganta! E, inesperado apenas por aqueles que não são palmeirenses, mais uma vez, no mesmo ano a América é nossa! Duas Libertadores no mesmo ano! E se a Commebol tivesse organizado três, teríamos ganho as três! Somos palmeirenses e, hoje jogaremos contra o gigante europeu. O mundo em um jogo.
E eu sei, que independente do resultado, as lágrimas rolarão. E o Verdão sempre estará comigo e com minha família. Obrigado, Palmeiras!
- Próximo Jogo: Ferroviária v Palmeiras │ Paulista 2022 - 7ª Rodada │ 16 de fevereiro, quarta-feira ás 19h00, Fonte Luminosa (Transmissão de TV: Paulistão Play e Premiere)
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