Bastidores: como Palmeiras e WTorre saíram do ápice da crise e selaram paz no Allianz Parque




16 Outubro 2024 - 05h02
Pouco mais de um ano após clube levar divergências até para a Polícia, parceiros começaram a mudar relação no início de 2024. Conversa entre Leila Pereira e Sílvia Torre sacramentou nova fase
Por geglobo

O que parecia impossível há um ano ocorreu na última sexta-feira: uma confraternização entre lideranças de Palmeiras e WTorre para celebrar o acordo entre os parceiros no Allianz Parque.

Depois de uma década de conflitos, a relação viveu em 2023 o ápice da crise, com o endurecimento do clube com o parceiro, levando até à Polícia a cobrança por falta de repasses de receitas desde 2015.

Tudo foi deixado para trás na semana passada, quando o Verdão e a Real Arenas, braço da construtora responsável pelo estádio, assinaram o acordo de R$ 117 milhões para zerar todas as disputas judiciais referentes à gestão da casa palmeirense.
 
Sílvia Torre e Leila Pereira se cumprimentam após acordo entre WTorre e Palmeiras — Foto: Camila Alves

– Passamos por situações muito nervosas – resumiu Leila ao geglobo.

– É um problema que tínhamos há 10 anos e quando fui eleita falei: não é possível, temos que ter uma solução para isso. Com todos esses litígios eu não me sentia em casa, hoje eu me sinto em casa, estou mais leve. Resolvemos tudo, está zerado – prosseguiu.

– O litígio não era bom para a gente, nem para o estádio, nem para o Palmeiras. (O acordo) Sempre foi o nosso intuito. Por sermos precursores de um projeto inovador nos levaria a arestas que precisaríamos acertar. Nossa vontade era de estar junto – reforçou Sílvia Torre, cofundadora da WTorre.

– Essa é uma casa de nós todos, sou a maior interessada de que seja uma casa de sucesso em todos os aspectos. A gente precisa do Palmeiras, foi o Palmeiras que nos trouxe até aqui – concluiu.

O acordo se tornou realmente possível após uma conversa entre Leila e Sílvia, mas até se chegar a este momento outros personagens tiveram importância para reconstruir a relação entre Palmeiras e WTorre. O geglobo conta agora estes bastidores.

Diretores entram para acalmar clima
O clube dizia publicamente por meio de Leila que a parceira devia em torno de R$ 160 milhões, não queria pagar e por isso pediu a abertura de inquérito policial. A empresa, por sua vez, rebatia a acusação, com Silvia argumentando que o valor não era correto, e o Verdão também tinha o que pagar.

Em uma relação que carregava anos de desgaste das gestões de Paulo Nobre e Maurício Galiotte, no segundo semestre do ano passado outra voz no Palmeiras começou a liderar os contatos com a WTorre: o CEO (diretor-executivo) Cristiano Koehler.

A partir do início de 2024, Cristiano passou a ter Marcelo Frazão como interlocutor na parceira. Então diretor de marketing, Frazão assumiu o comando da gestão do Allianz Parque e os dois começaram a tentar pacificar a relação.

Em abril, a Real Arenas voltou a fazer os repasses mensais das receitas do estádio. Este era o principal ponto de reclamação do Palmeiras e o que gerou a cobrança que se tornou pública.

Paralelamente a isso, o processo referente aos R$ 160 milhões corria na Justiça Comum. A WTorre cumpriu decisão judicial no mesmo mês e apresentou uma garantia para pagar o valor.

Dentro da construtora, este foi entendido como sinal de que aquilo que se brigava do passado estava assegurado. Era a oportunidade, então, de retomar conversas para acabar com a disputa.

– O Cristiano conversou comigo, falou que tinha tratado com Frazão: “Leila, vamos sentar novamente, tem possibilidade de acertarmos”. Eu estava desgastada, triste, chateada porque queria acertar. Ele falou que é possível. E Cristiano começou a conversar com Marcelo (Frazão) – relatou Leila.

A reunião entre Leila e Sílvia
Com a dívida assegurada na Justiça, Palmeiras e WTorre entendiam que a discussão pelos repasses estava perto de ser resolvida. Mas ainda restariam outras divergências entre os parceiros, especialmente na corte arbitral.

Ainda que as duas diretorias estivessem mais alinhadas, a negociação pelo acerto total era complexa. Ao longo dos dez anos, houve outros momentos em que as partes se aproximaram de um acordo e acabaram novamente se afastando.

Uma reunião entre a presidente do clube e da confundadora da WTorre, já no fim do primeiro semestre, foi o que deu o sinal verde para uma negociação.

– Há uns quatro meses, eu pedi para conversar pessoalmente com a Sílvia. Senti que não estava andando. Ela foi até o Palmeiras e conversamos olho no olho. Ela falou: "Leila, eu quero resolver, nós vamos resolver" – lembrou Leila.

As duas tiveram uma primeira conversa logo que Leila assumiu o Verdão, no início de 2022, quando mais uma tentativa de acordo naufragara. Dessa vez, o rumo foi diferente.

– Eu tenho mais 20 anos aqui, quero ser feliz e plena. Não necessariamente nossas vontades podem ser resolvidas como queremos. Estávamos em arbitragem, não podíamos falar nada. Tínhamos que cumprir os protocolos de todas essas etapas. A conversa aconteceu em um momento em que era permitido conversar e iniciar essa construção – acrescentou Sílvia.

– Com a força de duas mulheres, não tenho dúvidas que tiveram muito mais liberdade para trabalhar. Falei para a Sílvia, dou parabéns para todas as pessoas envolvidas, mas principalmente para duas: esta querida que é a Sílvia e eu (risos). Sem a força de nós duas não chegaríamos a este acordo, extremamente importante para o Palmeiras e para a Real Arenas – sentenciou Leila.

Enfim, a paz
O encontro entre lideranças de Palmeiras e WTorre após a assinatura do acordo foi visto como um simbolismo para sacramentar a paz. O desgaste afetava os dois lados.

Ao Verdão, era uma fonte de receitas relevante subaproveitada – a partir do próximo ano, o Allianz Parque (sem contar o Avanti e bilheteria de jogos) pode render mais de R$ 60 milhões.

Já para a WTorre encerra-se a disputa com o parceiro de um de seus principais ativos. Ter a relação pacificada com o Palmeiras é um trunfo para a empresa potencializar negócios no Allianz, que em novembro completa dez anos de existência. A parceria é válida até o fim de 2044.

Como o geglobo detalhou, o acordo terminou com  saldo de R$ 117 milhões ao clube, dividido da seguinte forma. O Palmeiras recebeu R$ 50,1 milhões à vista na semana passada, e:

◉ Ficará quatro anos sem precisar pagar por seus camarotes na arena
◉ Ficará três anos sem pagar para usar a loja de atendimento do Avanti
◉ Não pagará nos 20 anos restantes do contrato aluguel e condomínio do museu
◉ Poderá aumentar o setor Gol Norte em cerca de 1000 lugares

As propriedades, acrescidas dos R$ 50 milhões à vista, chegam à quantia total. Palmeiras e WTorre acertaram a partir do encontro de contas de cada lado.

O clube fazia uma série de cobranças ao parceiro, sendo a mais famosa referente aos repasses de receitas geradas pelo Allianz Parque. Mas a construtora, também, cobrava despesas em dias de jogos e contas operacionais.

Ao se confrontar estes números, chegou-se aos R$ 117 milhões. O Palmeiras não teve de desembolsar nenhuma quantia à WTorre para chegar ao acerto; aquilo que era considerado devido pelo Verdão foi debitado do que a empresa tinha a pagar.

  • Próximo jogo: Juventude x Palmeiras │Brasileiro 30ª Rodada │Data: 20/10 Hora: 20h00 Estádio Alfredo Jaconi [Transmissão: SporTV e Premiere]

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